Pelo chão, versos do "Elefante já vem, eu acho é pouco meu bem” conduzem às janelas voltadas para Olinda. Em outro entrelaço há um “Acorda Recife, acorda” que culmina em outra fresta, a que leva ao Bairro de São José.
E assim os frevos figuram como uma espécie de bússola, a partir do colorido de uma rosa dos ventos pintada no centro do salão do 3º andar do Paço do Frevo, direcionando os pés de quem caminha por ele.
É por lá que a exposição principal “Frevo Vivo” ganha nova roupagem, mais de uma década após ter sido aberta, junto com o equipamento cultural que salvaguarda o ritmo em essência mas também como movimento que se renova e reverbera para além dos dias de Carnaval.
Com abertura para o público logo mais à noite, às 19h, o novo conceito e estrutura do espaço que abriga a exposição ganham celebração em meio, é claro, a clarins e trombones como reforço ao que já previa Capiba, de que “O frevo bom viverá”.
O Quinteto Pernambucano e a Orquestra do Maestro Oséas dão as boas-vindas aos público, assim como o Ilê Axé Ojuomi saúda o Paço em corpo, canto, dança e axé, dando as bênçãos ao novo ambiente - que teve curadoria do próprio museu e identidade visual da artista e designer pernambucana Joana Lira.
Assinaturas ‘de casa’ que convergem para um único mote: mostra que o frevo é atemporal, o tanto quanto passível de ser expandido, renovado e recriado, inclusive, e talvez principalmente, pelas comunidades periféricas.
Já o projeto expográfico é da arquiteta paulistana Stella Tennenbaum.
Os estandartes
Entre as novidades da nova “Frevo Vivo” estão os estandartes e flabelos, que já ocupavam a Praça do Frevo e agora ganham mais imponência em vitrines e também no alto da sala, suspensos.
A nova configuração também esboça quadros estampados em uma das paredes, mostrando a particularidade do vazio de uma rua de Olinda, em dias “normais” fora do calendário do Carnaval, ao mesmo tempo em que um recurso de transição de imagens exibe o ‘ruge-ruge’ do mesmo local nos dias de folia.
Intervenções Educativas que levam o visitante a conhecer o vocabulário restrito e particular do pernambucano (no Carnaval), a exemplo de verbetes como “muganga”, “3 por 10”, “Antigo” e “combustível” - este, substantivo masculino mais conhecido pelas bandas de cá pela composição revigorante de ‘mé, axé, cana, gelo e batida’.
Referências e lembranças de personalidades do frevo são compartilhadas na instalação audiovisual “Ruas” e em uma tela touch, as “Cartografias Sonoras” dão conta, ao visitante, dos bastidores de ensaios de orquestras e de outros movimentos relativos ao frevo.
Imersão
Duas salas imersivas também compõem o novo ambiente no Paço do Frevo - equipamento da Prefeitura do Recife, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG).
São elas: a “Nós no Frevo”, concebida pela passista e professora Rebeca Gondim, que leva o visitante a uma sala tomada por espelhos em meio a coreografias exibidas em uma projeção na parede. Os ares convidativos “exigem” sentir a embriaguez do frevo, numa quase literalidade do “entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé”.
Já na sala “No Compasso do Frevo” a batuta passa a ser de quem adentra o ambiente. Uma composição de Rafael Marques e Isadora Melo, feita sob encomenda para o Paço, pode ganhar acordes de um frevo de rua, de bloco ou de um frevo-canção. Fica ao gosto do visitante-maestro.
O calunga
Incrementando a nova estrutura, bonecos gigantes passam a compor a Praça do Frevo, e nestes primeiros momentos da exposição o Homem da Meia-Noite divide com a Mulher do Dia o papel de anfitriões da mostra.
Tais quais, numa espécie de revezamento, outras figuras simbólicas do Carnaval terão espaço cativo na exposição - que nesta nova configuração teve investimento médio de R$ 5 milhões em fomento da Lei Rouanet.
SERVIÇO
Abertura da nova exposição “Frevo Vivo”
Onde: Paço do Frevo - Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife
Quando: nesta quinta (29)
Acesso gratuito
Instagram: @pacodofrevo